terça-feira, 12 de abril de 2011

EVALDO BRAGA - O ÍDOLO NEGRO

EVALDO BRAGA





O COMEÇO


Evaldo Braga nasceu na cidade de Campos dos Goytacazes em 28 de setembro de 1947 , Estado do Rio de Janeiro. Ele nunca conheceu seus pais: foi abandonado na rua e encontrado por uma senhora do Juizado de Menores que o encaminhou a FUNABEM. Infância parecida com milhares de outras crianças do país. Sua vontade de vencer foi sua diferença.

O desejo pela fama sempre o acompanhou. Mantinha, ainda na Funabem, uma disputa com um colega seu: um dizia que ia ser um cantor famoso. Outro, que ia ser um jogador de futebol famoso. Esse colega era Dario Peito de Aço, o Dadá Maravilha.


Ao atingir a maioridade, Evaldo trabalhou numa empresa funerária e numa companhia de aviação e, quando se viu sem possibilidades de conseguir outro emprego, foi engraxar sapatos na porta da Rádio Mayrink Veiga, conhecendo então vários artistas.

Passava os dias engraxando sapatos na Rua Mayrink Veiga, perto da famosa Praça Mauá, rua onde ficava a não menos famosa Rádio Mayrink Veiga e ali acabou por fazer contato com os artistas daquela Rádio e pouco a pouco foi acalentando o desejo de se tornar cantor. E foi Isaac Zaltman, que apresentava o programa “Hoje é Dia de Rock”, quem lhe deu a primeira oportunidade. Pouco depois a rádio fechou e Evaldo não tinha sequer onde morar.


O SUCESSO


Então conheceu o produtor e compositor Osmar Navarro, que gostou de sua voz e da maneira dele pronunciar bem cada palavra e o apresentou ao produtor Jairo Pires da gravadora Polydor, que andava procurando um cantor que fizesse frente à Nilton César contratado de outra gravadora.

Evaldo Braga lançou seu primeiro disco em 1971, e logo se tornou um sucesso com a música “A cruz que carrego”, de autoria de Isaías Souza, com uma carga dramática e autobiográfica incrível em versos como “Sinto a cruz que carrego bastante pesada, já não existe esperança no amor que morreu/a solidão e amargura/sempre me marcaram” que imediatamente podem ser remetidos a todo seu drama. O fato é que essa composição caiu logo no gosto popular e mesmo que a crítica especializada da época não desse muita importância a ele, nem ao menos se dando ao trabalho de avaliar seus dotes vocais e muito menos querendo travar qualquer contato com as músicas que cantava, seu sucesso aumentou cada vez mais. 


O AMARGO PASSADO

Apesar da infância pobre e difícil, Evaldo até que quis saber mais sobre o seus pais, a sua origem. Foi para Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, onde, após muita procura encontrou um senhor e dele obteve uma triste revelação; Sua mãe fora prostituta e o abandonara recém-nascido em uma lata de lixo. Muito sofreu ao saber de sua história, procurando uma maneira de superá-la através do trabalho, da arte e por fim, da bebida.


O AUGE

Em 1972 lançou o LP -Ídolo negro- Volume 2. Esse seu segundo disco contou com arranjos dos maestros Waltel Branco e Perucci apresentou novamente uma ambiguidade temática que tanto podia levar a relacionamentos amorosos desfeitos como remeter a sua biografia e ao abandono sofrido na infância.

O maior exemplo disso é “Eu não sou lixo”, parceria sua com Pantera, e que remete diretamente ao seu drama a começar pelo título e por versos como “Eu não sou lixo pra você querer me enrolar/Eu não sou lixo pra você fora jogar meu bem”, que imediatamente podem ser associados ao que a mãe fez com ele. Outras composições desse disco também podem ser utilizadas como uma autobiografia musical senão em suas totalidades, pelo menos em títulos ou frases

É esse o caso de “Esconda o pranto num sorriso”, de Jacy Inspiração e Marcos Lourenço que diz “Vou pela rua desta vida/E já nem sei/pra onde vou/pra ponde vou/Talvez na curva do destino/Alguém me dê o que você negou”. Ou então de “Não vou chorar”, de sua autoria e Hailton Ferreira que diz: “Pouco me importa que tu voltes novamente/Faz tanto tempo que até me acostumei/Sem teu carinho”, ou então “Tudo fizeram pra me derrotar”, de sua autoria e Izaias Souza, na qual ele canta: “Tudo fizeram pra me derrotar/Não conseguiram ao menos lembrar/Que sem parentes e sem um amor minha sorte vou chorar/Eu já não faço questão de viver/Sem seu amor faço apenas morrer/ (..) Eu sei tudo isso é passado mas nem magoado eu te esqueceria”.

Essas músicas, embora aparentemente remetam a paixão a uma mulher cujo amor se perdeu, lembram imediatamente também o abandono sofrido na infância pelo cantor, cujo trauma nem mesmo o sucesso no mundo artístico, uma verdadeira façanha para alguém com sua história de vida, foi capaz de apagar.



OS CRÍTICOS

Evaldo, mesmo campeão de vendas de vendas, sentia-se inseguro. Queria reconhecimento. Que todos aceitassem seu sucesso. Irritado com as críticas que recebia, queixava-se com amigos: “- Olha aqui. O cara diz que não canto nada, né? Manda ele ver quantos discos eu estou vendendo. Diz pra ele.” Chegou a afirmar em um jornal “Não faço música para a elite. Gravo para os que moram na Zona Norte, que entende as minhas músicas.”

Sua vida e as dificuldades que enfrentou até aquele momento da caminhada estão em suas músicas. “As minhas músicas estão inspiradas, quase todas, nesse tempo de luta e de sofrimento. Elas espelham exatamente o que passei, que é, na verdade, o que muitos passam. Isso explica porque meus discos vendem”.


O MITO


Foram 25 anos de uma trajetória bastante peculiar, marcada pela tragédia pessoal e pela aclamação popular. Conviveu de forma intensa com a tristeza e a alegria, a sarjeta e a glória, tudo percorrido na velocidade de um cometa. No auge do tão sonhado e suado sucesso, no ano mais promissor de sua carreira, segundo ele mesmo , um acidente de carro na antiga BR-3 em trecho próximo ao município de Três Rios, no estado do Rio, encerrou tragicamente uma carreira curta, mas vitoriosa. Era 31 de janeiro de 1973.

Deixou uma legião de fãs desconsolados. O Cemitério São João Batista na cidade do Rio de Janeiro, lotou. A comoção foi tamanha que teve de ser contida com o apoio da tropa de choque da PM local.

Evaldo Braga faleceu com apenas dois discos gravados. Um terceiro foi lançado no ano de sua morte, mas era na realidade, uma coletânea. Trinta e nove anos depois de seu falecimento, a música popular brasileira passou por transformações avassaladoras, algumas das quais já se processavam quando de sua morte. Com isso teria ele caído no esquecimento?

Não, pelo contrário, seu mito manteve-se vivo na memória popular mesmo que nenhuma estação de televisão se dê ao trabalho de apresentar qualquer especial sobre sua vida e carreira. Em condições normais, ele teria caído no famoso “limbo do esquecimento”, mas, no entanto, mesmo depois de 39 anos, seu túmulo é visitado por romarias de fãs no dia de finados, seus discos continuam a ser adquiridos e podem ser encontrados com facilidade nos locais que cultuam a chamada música brega.



Em um álbum lançado após a sua morte, a gravadora Phonogran fez uma dedicatória na contra-capa:


Evaldo,

Com seu sorriso largo, sua música e sua vontade de vencer, você esteve pouco tempo entre nós. E ficou para sempre.

Aliados e testemunhas de sua luta para dar o melhor de si e conquistar a admiração e o respeito das multidões, nós sempre encontramos dentro do “ídolo negro” dos auditórios, o homem comum e humilde, a criança pobre, o artista disciplinado e o amigo sincero que você foi sempre. No desespero do início, no aceso da luta e na alegria da vitória.

A sua música povoou de emoção milhares de corações e, cantando suas dores e alegrias, você a fez um pouco de cada um que a ouviu e sentiu.
Para as multidões você será sempre o “Ídolo Negro”. Mas para cada coração, para cada rosto anônimo que o amou de longe, sua voz ficará como a do amigo que dividiu a imensa tristeza e as poucas alegrias de uma vida de lutas e sofrimentos com cada um que ouviu seu canto.


Cia. Brasileira de Discos Phonogram.

Fontes:

http://www.pauloluna.net/

http://www.evaldobraga.com/

 VÍDEOS


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